quinta-feira, 10 de setembro de 2009

a propósito de "Cristiano Homossexual" - a marcha do orgulho Gay @ Budapest

Quando estávamos a entrar no estádio, uns húngaros meteram conversa connosco e começaram a dizer em inglês que o cristiano é gay e tal. Eu respondi que por mim tanto fazia desde que jogue bem à bola e marque golos. O senhor pareceu um bocado desiludido com a resposta. (o que ele queria sei eu....)

Durante quase todo o jogo, um dos gritos de guerra da claque era precisamente a insultar o Ronaldo, chamando-lhe homossexual.

Isto poderia ser um facto sem interesse, mas leva-me a partilhar convosco assuntos mais sérios sobre a sociedade húngara.
No sábado passado organizaram em Budapest uma marcha do orgulho gay.

No ano passado foi terrível. Um grupo de neo-nazis tentou atacar as pessoas que iam na marcha, atirando ovos com ácido. Diz-se que houve mesmo uma ameaça de bomba.

Este ano, a segurança foi apertadíssima. Mais parecia que ia haver uma batalha campal. Fecharam toda a rua principal da cidade, onde ia ser o desfile, com barreiras policiais. Desde muito cedo, foi um desfile de sirenes e carros de polícia.
Numa certa altura nem o eléctrico podia passar e as pessoas não podiam atravessar a rua para irem para casa.
Havia uma destas barreiras mesmo à porta da minha casa. Com sorte podia sair para um dos lados. O que mais me fez confusão foi chegar a casa e ter um grupo de polícia de choque à porta, armados até aos dentes. E não, não era por minha causa. Antes que se lembrem de fazer piadinhas parvas. O assunto é sério.

Os polícias à minha porta.

Assisti à marcha da varanda. Era apenas um grupo de pessoas a desfilar na rua. Absolutamente pacíficos, naturalmente. Completamente rodeados de polícia.

Os carros da polícia

Todo o aparato policial, perante isto, pareceria completamente ridículo e desnecessário. Mas os maus estavam à espreita! pronto para atacar. E tê-lo-iam feito, sem dúvida! Cobardes!Contaram-me pessoas que foram à marcha que eles se tentaram meter lá no meio...

Ah e mais. Não me venham dizer que são só os ultra-nacionalistas que pensam assim.
Um amigo meu brasileiro que é gay estava no bar com o namorado e o empregado veio dizer que "manifestações de carinho" ali não!

Não compreendo comoé que nesta cidade se respeita tão pouco os direitos humanos e a liberdade de escolha. Estamos a falar de um país que viveu meio século sob o regime comunista. Parece que não aprenderam nada sobre liberdade de expressão!
Este país tem muito para evoluir ainda, no que diz respeito à mentalidades.

Isto sou eu a assitir da varanda. Pro ano vou lá pro meio.

Fui à bola - Hungria x Portugal

A selecção nacional veio jogar a Budapest.
Como qualquer emigra que se orgulhe de o ser, não podia faltar ao acontecimento.
Tinha combinado ir ao estádio com alguns amigos estrangeiros, mas os bilhetes pro lado português eram muito caros.
Fiquei com as minhas expectativas desfeitas.

Entretanto, soube de uns portugueses que teriam um bilhete a mais.
Resumindo, acabei por conseguir um bilhete bem em conta e ir ao jogo com um grupo de portugueses que nunca tinha visto.

Claro que, como diz o povinho, e com razão, não há bela sem senão. Os bilhetes eram para o lado húngaro.
Só tomamos consciência do facto quando estávamos para entrar no estádio e demos por nós no meio da multidão de húngaros enormes aos berros:
"ria... ria... Hungária!"
e quando os seguranças gentilmente nos proibiram de entrar com os cachecois e as bandeiras.

Tudo bem, a malta conteve-se. Excepto no momento do hino, em que orgulhosamente (3 gatos pingados) no meio da multidão furiosa de magiares elevamos as nossas vozes: "Às armas! Às armas!"
Soube mais tarde que recebemos algumas ameaças de morte derivado a acto tão heróico (ou suicida). mas a malta não percebe estrangeiro...

De resto, ficamos caladinhos e quietinhos, não fosse o diabo tecê-las que esta gente é grande e são muitos!
Até gritava com eles "magyarok"!!!

e "Cristiano! Homessexual! Homossexual!" Bom, nesta parte abstive-me...

jogassem eles tão bem como gritam, e a coisa teria sido muito mais interessante.

Foi mais ou menos assim:


quarenta e tal mil ao que parece...


O jogo, como já se sabe, foi uma seca. Os húngaros jogam muito mal. Falham passes, não acertam na baliza e estavam completamente perdidos. Os Portugueses parecia que andavam a pastar caracóis. Aproveitou-se apenas o resultado.

Apesar de tudo foi divertido e correu tudo bem. Aprendi muito mais insultos em húngaro do que seria possível em outra situação.

E no fim fui pra casa de bandeirinha enrolada no casaco, pra não ser trucidada.